segunda-feira, 27 de abril de 2009

RAMALHETES




Nas encostas dos abismos
sem fundo, nasceram
ramalhetes dourados.

Tamanho o aroma
que dos píncaros desceu
aos vales o seu rastro.

Subiram, então, fariseus
com vasos ornados
a ouro e pedras místicas,

para roubar-lhes o sumo,
gabar aos hebreus
e enfeitar seus erários.

Talharam as raízes,
e pelas pétalas levaram
o que dela jamais se leva.

Cegaram os escravos
que por relance miraram
a penumbra de suas heras.

Ao relincho das mulas,
assomavam gritos
e estalidos de chicotes.

Na surdina, os fariseus
já tramavam entre si
a partilha dos dotes.

De um grupo, formaram-se
dois, de dois quebraram-se
em quatro, entre os quatro

firmaram um pacto:
cortados seriam os artelhos
dos lépidos, mutilada a

língua dos sábios, rasgados
os lábios dos belos,
de tal forma que

para virtude qualquer
se daria devido trato.
Reduzidos à mediocridade,

enfim, chegaram à cidade.
Mas não guardavam mais
os fariseus seu orgulho

e a suposta santidade.
Rotos feitos porcos,
apenas restos da

pretensão de outrora,
como bestas a todos
anunciaram a mãe das rosas.

E, assim, mutilados
e o espírito em crostas,
despejaram de seus

vasos ornados a ouro
e pedras místicas
capins e bostas.

E o riso se alastrou
por setenta e cinco anos.
E a história percorreu

por mais cento e vinte anos.
E os filhos dos fariseus
esconderam os nomes

de seus decanos.
Pelos vales ainda
os ramalhetes espalham

seus aromas.
Mas há riquezas que não
pertencem aos homens,

como os céus e as ondas.

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