segunda-feira, 28 de setembro de 2009

os pés alados



teus pés
são como
pássaros


não pisam
apenas
pousam


voam e
despistam
rastros




*

sábado, 26 de setembro de 2009

roldanas

*



À vida que se funde no terreno da frieza, falta o sentido que lhe valha. O tempo se amarga e fustiga os desejos, gota a gota desprovidos de teor. Furta-se da maquinaria dos afetos seus complexos enlaces, restando um parco sistema de roldanas. O peso do cotidiano repartido e suportável. Nasce o couro sobre os limites do ser e o efeito das carícias é lançada ao limbo, até se tornar duvidável. E um dia, dentro da vida forjada na frieza, o sentimento de tão estrangeiro será um inimigo. E a batalha, uma convicção.




*

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

o tato e o imaginário





Se não te vejo, ficas mais linda, pois em mim recrio o que em ti me retira as sílabas. Pitangas, cometas, glicíneas, brisas do mar, misturo-os e você vira um enigma. Mas se te vejo, nem sei se estás ou não bonita, se ainda é dia ou se o dia hoje existe. Se te vejo, nada mais vejo. E todo lugar é apenas o espaço de nosso encontro.



*


Todo pensamento é um contorno de tristeza. Saber que não se tem a forma e a carne à nossa frente. Criação de indícios que sustentam na memória o festival das sensações. Sempre uma saudade. Afluente do medo de não termos a posse de nada, a não ser dentro deste palco em que nos reconhecemos e nos recriamos, inacessíveis. Calabouço.


*


O pensamento é quem nos pensa. Faz-nos reféns de suas artimanhas, até que nos desconheçamos. Até não sabermos se verdadeiros foram alguns sentimentos, ou recriações para satisfazê-lo.



*

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

temporal


por mais
que eu
ande

e deixe
para
ontem

o que
não
adianta

penso
se sigo
adiante

ou se
antes
ainda

é tempo



*

ausência




em meio
ao sal

e isso
nunca é


é
sempre



*

sábado, 19 de setembro de 2009

edemas

sem
celeumas

nem
dilemas

se no
peito


edemas

é porque
valeu

a pena



*

terça-feira, 1 de setembro de 2009

reichiana




vamos
desatar
os nós


antes que
nós
fiquem(os)


cegos
*