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Nas encostas dos abismos
sem fundo, nasceram
ramalhetes dourados.
Tamanho o aroma
que dos píncaros desceu
aos vales o seu rastro.
Subiram, então, fariseus
com vasos ornados
a ouro e pedras místicas,
para roubar-lhes o sumo,
gabar aos hebreus
e enfeitar seus erários.
Talharam as raízes,
e pelas pétalas levaram
o que dela jamais se leva.
Cegaram os escravos
que por relance miraram
a penumbra de suas heras.
Ao relincho das mulas,
assomavam gritos
e estalidos de chicotes.
Na surdina, os fariseus
já tramavam entre si
a partilha dos dotes.
De um grupo, formaram-se
dois, de dois quebraram-se
em quatro, entre os quatro
firmaram um pacto:
cortados seriam os artelhos
dos lépidos, mutilada a
língua dos sábios, rasgados
os lábios dos belos,
de tal forma que
para virtude qualquer
se daria devido trato.
Reduzidos à mediocridade,
enfim, chegaram à cidade.
Mas não guardavam mais
os fariseus seu orgulho
e a suposta santidade.
Rotos feitos porcos,
apenas restos da
pretensão de outrora,
como bestas a todos
anunciaram a mãe das rosas.
E, assim, mutilados
e o espírito em crostas,
despejaram de seus
vasos ornados a ouro
e pedras místicas
capins e bostas.
E o riso se alastrou
por setenta e cinco anos.
E a história percorreu
por mais cento e vinte anos.
E os filhos dos fariseus
esconderam os nomes
de seus decanos.
Pelos vales ainda
os ramalhetes espalham
seus aromas.
Mas há riquezas que não
pertencem aos homens,
como os céus e as ondas.
manacás, tarsila amaral
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